Vulnerabilidade, criatividade e inovação: qual a relação?

Courage does not always roar

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Em seu livro, “A coragem para liderar” , Brené Brown afirma que “sem vulnerabilidade não existe criatividade ou inovação”.

Sua justificativa para essa afirmação parte do processo criativo.

Quem já participou de um sprint de Design Thinking, uma dinâmica criativa ou ainda de um workshop de Lego® Serious Play® sabe quão incerta é uma jornada criativa.

E essa incerteza gera um desconforto enorme para muitas pessoas nas organizações.

Isso justifica o fato de muitas empresas, nas quais o conceito de vulnerabilidade é compreendido como uma fraqueza, terem tanta dificuldade para inovar.

E Brené bem lembra que não existe “absolutamente nenhuma inovação sem fracasso”.

Frase um tanto óbvia, mas sabemos que pouco praticada em diversas empresas: “queremos uma inovação segura, que dê certo, ok?”

A verdade é que, desde a revolução industrial, as pessoas são ensinadas a mitigar toda e qualquer vulnerabilidade sistêmica na empresa.

Isso envolve padrões e processos de uma organização e faz super sentido.

Contudo, é importante entender o que significa vulnerabilidade no âmbito do indivíduo, atualizando os conceitos que habitam o imaginário das pessoas e, principalmente, das lideranças nas organizações.

Como esse é um conceito complexo, talvez fique mais fácil fazer essa construção desconstruindo alguns mitos sobre vulnerabilidade.

O primeiro mito que deixa as pessoas literalmente em pânico é que vulnerabilidade significa se expor freneticamente.

Vamos trazer isso para dentro das organizações para ver se faz sentido.

Se você chegar para seu time expondo absolutamente TODAS suas experiências pessoais mais íntimas, revelando abertamente TODAS suas emoções em todos os momentos, sem qualquer filtro… é provável que você esteja com alguma questão mais grave, como uma ansiedade crônica.

No conceito da Brené ela chama isso de “a vulnerabilidade pela vulnerabilidade” que seria algo como uma “expurgação emocional”.

Se uma liderança está preocupada, ela não deve sorrir e dizer ao time que está tudo bem, isso é fingimento, se esconder atrás de uma máscara, um escudo. Tampouco deve despejar em seu time todo seu pânico e descontrole.

Para lidar com sua vulnerabilidade ela deve demonstrar sua preocupação, informar que o momento pede cautela, que talvez não tenha todas as respostas, mas que está ali para ouvir o time e navegar com eles da melhor forma possível nos problemas que irão enfrentar.

No papel de gestão, a liderança deve passar a mensagem de forma sempre transparente, filtrando os momentos de pânico, com uma comunicação assertiva, empática, acolhedora e que encoraje sua equipe a seguir adiante.

Se a liderança praticar apenas a expurgação emocional poderá desestabilizar o time inteiro!

O ideal para a liderança é ter alguém para fazer essas trocas mais intensas, como um coach ou mentor(a).

Tem que ser alguém que tenha competência para ajudar ou guiar essa liderança durante a turbulência. De forma que ela possa por para fora suas ansiedades e sentimentos, recebendo encorajamento para acolher o que está passando e entender as alternativas.

Outro engano muito comum é tentar usar a vulnerabilidade como ferramenta para ganhar a confiança das pessoas.

E aí entra em cena os aspirantes a ator/atriz que choram e se fazem de vítima para ganhar a confiança alheia, pois entendem que esse é o caminho.

Pois bem, num momento real de vulnerabilidade, (daqui a pouco iremos falar da falsa vulnerabilidade), a pessoa já tem que confiar em quem está ali.

Sem essa confiança ninguém irá se abrir!

A confiança é algo que vai sendo construída de pouco em pouco, com pequenos gestos, cuidados e uma observação gentil em nosso dia a dia.

Sabe quando você está precisando de uma ajuda para convencer alguém em uma reunião e uma pessoa traz “o” exemplo perfeito para ilustrar aquilo que você acabou de dizer, endossando sua fala?

Pois bem, aquela pessoa com certeza ganhou pontinhos positivos na sua calculadora pessoal de confiança!

Um terceiro elemento, considerado místico no âmbito da vulnerabilidade, é a questão da segurança emocional.

Diversos estudos já sugerem seu papel para permitir que as pessoas acessem sua vulnerabilidade.

Contudo, isso não quer dizer que todos serão os melhores amigos no escritório, que não haverá conflito ou pressão!

Estamos tratando de vida real e nela temos conflito e pressão para todos os lados!! E isso não invalida um ambiente com segurança emocional, pois ela existe quando, por exemplo, o julgamento é deixado de lado…

Ou ainda, quando as pessoas são incluídas apenas nas reuniões que devem ser incluídas, minimizando aquele sentimento de que se não foi convidado, boa coisa não é…

Outra forma de oferecer segurança emocional é não interromper alguém a toda hora em uma apresentação ou fala…, como se a pessoa não tivesse competência para desenvolver suas ideias.

Enfim, o básico da segurança emocional é simples: criar um ambiente positivo com confiança, respeito, sinceridade, empatia e curiosidade genuína pelas pessoas.

Agora que você já ampliou seu repertório acerca de vulnerabilidade e até identificou situações vivenciadas em seu dia a dia vamos falar da definição desse conceito, segundo a própria Brené Brown:

“Vulnerabilidade é sentimento que experimentamos durante períodos de incerteza, instabilidade e exposição emocional”

Na vulnerabilidade não existe o conceito de ganhar ou perder, mas sim o de ter coragem de agir mesmo não sabendo e não podendo controlar o resultado!

Fugir não é uma opção, encerrar uma reunião para não entrar em conflito, tampouco.

Ser vulnerável é aceitar esse sentimento e dentro dele navegar, mesmo estando desconfortável.

Sentir é, sem dúvida, uma das formas de ser vulnerável.

Contudo, em uma sociedade que desde pequena as pessoas pedem para as crianças engolirem o choro e invalida seus sentimentos, com frases como “não foi nada!”, com certeza fica mais difícil se libertar dessas crenças e ser vulnerável quando adulto.

E aí que entra a falsa vulnerabilidade.

Diversas lideranças têm se engajado mais em ouvir sobre vulnerabilidade, assistem ao TED Talk, “O poder da vulnerabilidade”, da Brené e saem por aí espalhando o termo aos setes ventos, pois virou uma palavra da moda.

Mas ao tentar colocar isso em prática, percebemos que ainda temos uma longa jornada.

Se a liderança não se permite sentir, não consegue sentir o outro, portanto, irá faltar empatia e sem empatia, a tríade da confiança, conforme Francis Frei explica, será quebrada.

Um exemplo clássico é a liderança anunciar que dará espaço para as pessoas trazerem suas dores, sentimentos e ideias, pois quer ouvir seu time, ter uma gestão mais empática e colaborativa.

Só que, na prática, esse espaço é deixado sempre para o final das reuniões ou do expediente, portanto, quase nunca ocorre. Ou seja, torna-se mais uma falácia corporativa.

Como seres sociais percebemos, mesmo que inconscientemente, quem traz consigo uma verdade e quem está encenando. A falsa vulnerabilidade irá nos incomodar e nos afastar ainda mais.

A essa altura você já deve ter percebido como a vulnerabilidade é chave para permitir que as pessoas tenham espaço, se sintam à vontade para poder dar ideias, colaborar, criar… ou indo além, sair das ideias para a ação, inovando e agregando valor!!

A frase de Joseph Campbell faz todo sentido nesse contexto:

“A caverna onde você tem medo de entrar, guarda o tesouro que você busca”

Inúmeras construções de Lego® Serious Play® já refletiram isso: as pessoas temem demais ser vulneráveis e literalmente constroem muros ao redor de seus sentimentos. E assim se afastam daquilo que mais desejam…

Qualquer situação em que se sintam expostas, tais como: mediação de conflitos, processos de geração de ideias, tomadas de decisão ousadas, um processo criativo completo, sessão de feedback, dinâmicas criativas dentro das empresas… elas fogem e se enclausuram em ideias como: não tenho tempo para isso e navegam no piloto automático mais uma vez.

Contudo, ao aceitar sua vulnerabilidade e lidar com ela no dia a dia é que as pessoas se diferenciam, tornam-se lideranças ousadas, criativas e passam a inovar, sendo requisitadas nas mais diversas organizações.

Lembre-se disso!

E se quiser saber mais como a Zweck Consultoria pode agregar valor para sua empresa nesse processo, entre em contato.

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